segunda-feira, 14 de junho de 2010

Flor da Morte


Os mortos estão deitados
e têm sobre o rosto um véu.
Um tênue véu sobre o rosto.

Nenhuma força os protege
senão esse véu no rosto.
Nenhuma ponte os separa
dos vivos, nenhum sinal
os distingue mais que o véu
baixado ao longo do rosto.

O véu modela o perfil
(filigranas de medalha)
acompanha o arco dos olhos,
sobe na asa do nariz,
cola-se aos lábios
o morto respira por sob o véu.
(Também os vales respiram amoldados à neblina.)

E através do véu a aragem
de um sorriso treme,
prestes a dar à luz um segredo.

Um véu como outros, tênue,
guarda o segredo dos mortos.
Nada mais que um véu.

Reminiscência de outros véus,
de outras verônicas, de outras
máscaras. Símbolo, estigma.


Henriqueta Lisboa

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