segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Serenata de Cecília


"Permita que eu feche os meus olhos, pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora, e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça: que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo"

Cecília Meireles

domingo, 29 de agosto de 2010

Timidez


Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

e um dia me acabarei.

CECILIA MEIRELES

quinta-feira, 26 de agosto de 2010


"Não, não quero mais gostar de ninguém, porque dói. Não suporto mais nenhuma morte de ninguém que me é caro. Meu mundo é feito de pessoas que são as minhas - e eu não posso perdê-las sem me perder."

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sonho com plantas e gestos amáveis


Em sonho vireis delicadamente
e sem motivo algum
direis palavras amáveis
que vos surpreenderiam
se vos fossem contadas.


Em sonho mandareis colocar no meu terraço
plantas cheias de flores
que todos admirariam,
pois jamais foram vistas
da China à Patagônia
e existem apenas neste sonho.


Jamais saberei o que sonháveis
enquanto eu sonhava com as vossas gentilezas.
Jamais sabereis que tais gentilezas foram sonhadas.


Sem motivo algum,
ficam floridos noutro mundo os meus terraços.
E somente eu poderei pensar nisso.
Somente eu vi tudo isso.


E é como um achado arqueológico,
momentâneo e perene
entre o ar e o pó.



Cecília Meireles
In: Poesia Completa
Sonhos (1950-1963)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Carrego o peso da lua



Carrego o peso da lua,
Três paixões mal curadas,
Um saara de páginas,
Essa infinita madrugada.
Viver de noite
Me fez senhor do fogo.
A vocês, eu deixo o sono.
O sonho, não.

Esse, eu mesmo carrego.

(Paulo Leminski)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Amor - Clarice Lispector



E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu.

Clarice Lispector - “Laços de Família”

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Sonhos


O sonho encheu a noite extravasou pro meu dia
Encheu minha vida e é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.

Adélia Prado